Descobrindo a Renda Fixa

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Com o mercado tão alvoroçado, muitos investidores optam em alocar seus recursos em ativos mais conservadores, achando que o ganho será linear e livre de risco. De fato, existem investimentos assim mas, em geral, a percepção que se tem é de que qualquer ativo de renda fixa é conservador e te dará um ganho constante e sem correr riscos.

Sinto dizer, mas não é bem assim.

Investimentos em renda fixa possuem risco e seus retornos não são lineares e constantes. Vamos entender o porquê.

Ativos de Renda Fixa

Os ativos de renda fixa são originados de uma relação de crédito que o investidor tem com o emissor do ativo. Ou seja, você está emprestando seu dinheiro para alguém. Esse alguém pede dinheiro emprestado e te entrega um “contrato” na forma de um ativo financeiro, dizendo que se compromete a te pagar um determinado retorno por ele, com uma data de vencimento pré definida, além de outras regras.

Sendo assim, você pode:

• Emprestar seu dinheiro para o governo e em troca receber os Títulos Públicos;

• Emprestar seu dinheiro para os bancos e em troca receber a poupança, o CDB, da LCI ou a LCA;

• Emprestar dinheiro para uma empresa e em troca receber uma debênture, um CRI ou CRA.

Todas essas opções são títulos de dívidas, com uma condição de remuneração predeterminada e é somente por isso que são denominados renda fixa. Não significa que, por ser renda fixa, você já sabe exatamente o quanto irá receber no total e, apesar de não saber exatamente quanto vai render, você pelo menos já sabe as regras sobre sua remuneração.

A remuneração pode ser de três tipos: CDI ou pós-fixada, prefixada, ou IPCA (inflação).

CDI

CDI significa Certificado de Depósito Interbancário e tem como lastro os empréstimos que ocorrem entre os bancos (sim, eles emprestam dinheiro entre si!) e utilizam a SELIC como parâmetro de custo desses empréstimos. Isto é, usam a taxa básica de juros da economia para servir de balizador. Complementando, SELIC e CDI são quase iguais, sendo que o CDI é, em média, 0,10% menor que a SELIC.

A maneira mais comum de ser remunerado por esse tipo de juros é por percentual do CDI. Por exemplo, um CDB do banco X remunera 110% do CDI. Considerando, hipoteticamente, que o CDI esteja 9%, 110% dele vai equivaler a um ganho de 9,90%. Se o CDI cair para 7%, seu ganho será de 7,7% e assim por diante. Se o CDI subir para 10%, você ganhará 11%.

Então, perceba que essa estratégia é melhor quando há uma projeção de aumento de juros e pior quando os juros caem.

Outra forma menos comum de ser remunerado pelo CDI é somar um percentual ao CDI. Por exemplo, CDI+2%. Sendo o CDI 10%, 10+2 é igual a 12% e assim vai.

Remunerações Prefixadas

Elas são fáceis de entender, mas complicadas de compreender. Vou explicar porquê.

O ganho é um percentual fixo, medido normalmente ao ano. Por exemplo, 20% ao ano. Aconteça o que acontecer, seu ganho será sempre os 20%. Aparentemente, sem risco, né? Aí que mora o detalhe do risco.

A definição de 20% de retorno não sai da cabeça de alguém que decidiu colocar isso como remuneração. Essa taxa surge de alguns fatores de mercado que, ponderados, chegam nesse valor. Prazo do ativo, qualidade e risco de crédito do emissor, projeção da média de juros para o período.

Tirando o prazo, os demais fatores podem mudar ao longo do tempo, o que pode deixar os 20% mais ou menos atrativos. Se os juros subirem demais, 20% de remuneração fixa pode ser pouco, se juros caírem, os 20% viram um excelente negócio.

Fora isso, a qualidade e risco de crédito também podem ter esse efeito, caso o emissor tenha uma melhora ou piora em sua nota de crédito.

IPCA (inflação)

Por último, temos a remuneração atrelada à inflação. No Brasil, temos o IPCA, que é o índice oficial de preços, que mede a variação de preços dos itens de consumo primário de famílias entre 1 e 40 salários mínimos, de 15 regiões metropolitanas do Brasil.

Costumo dizer que, por ser amplo demais, dificilmente vai representar de forma exata o impacto da variação de preços no seu bolso… digo que cada um tem seu próprio IPCA.

Nesse sentido, a inflação é um vilão, mas para o investidor, ter uma remuneração que sempre irá acompanhar a inflação dá um alívio. O formato é um só, composto de inflação, somado a um percentual prefixado, ou seja, o IPCA +.

Entretanto, tudo que tem um percentual pré definido, acaba tendo como base o quanto de risco o investidor está propenso a assumir e o quanto o mercado está precificando esse risco naquele momento, com base num cenário de projeções futuras, coincidentes com o vencimento do ativo, entre outros fatores que expliquei anteriormente, como o risco de crédito.

Portanto, há ajuste nessa precificação diariamente para adequar o nível de remuneração frente ao que o mercado está exigindo. Para esse ajuste, altera-se o coeficiente prefixado, já que a inflação não pode ser mexida.

Negociação no mercado secundário. Como isso funciona?

Para explicar como funciona, vou usar um exemplo do nosso dia-a-dia.

Imagine que você vai numa concessionária para comprar um carro zero quilômetro. O vendedor lhe apresenta as opções e passa o “preço da tabela FIPE”, que é o padrão oficial de preço de todos os automóveis. Então, você decide comprá-lo.

O vendedor ainda diz que você está numa promoção, onde a concessionária irá recomprar seu carro apenas daqui 10 anos, pagando o preço da tabela FIPE. Evidentemente, qualquer negociação que você queira fazer antes desse prazo não terá garantia de ter seu carro precificado exatamente pela tabela FIPE.

Essa tabela ajusta os preços dos carros através dos anos e serve como referência para as negociações. Com base nisso, o vendedor estima o preço e o comprador negocia. Caso o carro esteja num excelente estado, o vendedor consegue vendê-lo com preço acima da média (com ágio), se estiver em mau estado, fatalmente venderá com preço abaixo da média (deságio).

Agora, vamos trocar as coisas para entender essa variação (ágio e deságio), na negociação de renda fixa.

O carro que você comprou é seu ativo de renda fixa. A taxa de remuneração deste ativo é a tabela FIPE dele e a recompra da concessionária, pelo valor de tabela, somente daqui 10 anos, representa o prazo de vencimento e encerramento do investimento. Neste caso, você tem a garantia de receber exatamente o preço de tabela, ou seja, a remuneração contratada.

A negociação antecipada do seu carro, com base na avaliação de mercado dele, é como vender seu título antes do prazo. Para que você consiga vender seu título acima do preço de mercado, ou seja, receber uma remuneração superior à contratada, ele precisa estar mais atrativo do que aqueles títulos que estão sendo emitidos naquele momento.

O inverso também ocorre quando você decide vender seu título num momento onde a atratividade dele não é boa, você acaba recebendo menos rentabilidade do que a contratada.

Com o carro é simples, seu estado de conservação, quilometragem, marca, modelo, são os fatores que vão determinar seu preço. No caso dos ativos de renda fixa a métrica é um pouco mais complexa.

Como havia comentado, a parte prefixada da remuneração, contida nas taxas pré, ou de IPCA +, ou de CDI, tem como base uma projeção de risco futuro, representado pela curva de juros. Ou seja, a média de juros projetada para o período. Quanto maior essa média, maior é o risco enxergado pelo mercado. E quando se vê mais risco o mercado exige maior retorno, portanto, a consequência é ter essas taxas prefixadas apresentadas em níveis mais elevados.

Quando a projeção é mais positiva e a média de juros cai, a exigência de retorno diminui. Neste caso, as taxas prefixadas tendem também a diminuir.

Além disso, temos o risco específico do próprio título com base em sua saúde financeira, que pode melhorar ou piorar ao longo do tempo, gerando maior ou menor atratividade.

Mas na prática, como funciona essa venda antecipada com rentabilidade acima ou abaixo da “tabela”?

Vender um ativo cuja taxa que você obteve na compra está acima das taxas praticadas no mercado para ativos similares o torna mais atrativo (comprei com o mercado enxergando alto risco e vendi quando o mercado estava projetando um risco menor). Neste caso, é como vender seu carro acima da tabela FIPE.

Agora, vender um ativo num momento onde o mercado estiver com ativos similares, mas com taxas melhores, certamente irá desprestigiar o seu e pagar menos do que ele vale.

O cálculo é feito pela diferença entre as taxas, a sua e a praticada pelo mercado no dia da venda, multiplicado pela duração do seu ativo. Não confunda duration com vencimento. Duration é o tempo que se leva para obter o retorno do capital investido e acaba sendo menor do que o vencimento quando há pagamento antecipado de juros, por exemplo.

Agora que descobrimos que a renda fixa não é tão fixa quanto parece, é importante adequar essas características ao portfólio de investimentos. Por mais que sejam ativos líquidos na maioria das vezes, nem todos vão servir como reserva de emergência.

Sempre conte com o apoio de seu assessor de investimentos para ter uma carteira bem adequada ao seu perfil e objetivos.

Até breve!

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